Dúvidas sobre ortografia lideram plantão gramatical por telefone no CE
Ortografia e sintaxe são as dúvidas mais comuns de quem liga para o plantão gramatical que funciona há quase 30 anos em um prédio público de Fortaleza, no Ceará. Nove professores de português, dois deles com mestrado, ficam de prontidão para ajudar quem dispensa a internet e recorre ao telefone para escrever ou falar corretamente. O serviço, mantido pela Prefeitura de Fortaleza, funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. O atendimento é semelhante ao que deve ser implantado no Rio de Janeiro, de acordo com lei publicada no Diário Oficial da Assembleia do estado na terça-feira (17).
No serviço mantido em Fortaleza, as perguntas de ortografia mais comuns estão ligadas ao uso do hífen, principalmente após a reforma ortográfica em vigor desde 1º de janeiro de 2009, segundo Francisco Marino Neto, coordenador do plantão.
Na sintaxe - parte da gramática que estuda a disposição das palavras na frase e a relação lógica das frases - as dúvidas quase sempre estão relacionadas à concordância verbal, de acordo com Marino, que há 17 anos atua no local. "A língua é um de nossos patrimônios e temos de zelar por ela", afirma Marino, graduado em letras e mestre em linguística pela Universidade Federal do Ceará.
Os atendendentes demoram, em média, três minutos em cada ligação. Para responder as dúvidas, além da experiência pessoal, os professores recorrem a dicionários, gramáticas e enciclopédias. Na sala há apenas dois computadores.
"Se for uma análise sintática mais difícil, eu anoto, faço a análise e depois retorno para a pessoa. Primamos pela exatidão e, se não sabemos, não respondemos. Mas isso é raro", diz Marino.
Os professores trabalham sempre em duplas. Não é difícil conseguir fazer a ligação, apesar de haver só uma linha telefônica. Quem liga não precisa se identificar. Aliás, os professores só têm noção com quem estão falando pelo sotaque ou conteúdo da pergunta que vem do outro lado da linha.
"Atendemos muito publicitários, secretárias e advogados. Estudantes são poucos. Há pessoas que ligam com frequência, nós já reconhecemos a voz", afirma Marino. Ele diz que já atendeu um consulente que ligou oito vezes no mesmo dia.
Queda
Ao longo dos anos, o plantão gramatical de Fortaleza perdeu público para uma ferramenta poderosa: a internet. Em 2000, o número mensal de consultas era de 2.930; em 2005, caiu para 2.377; em 2007, para 2.237; e em 2008, para 1.998. No ano passado, a média de ligações por mês foi de 1.843, contra 1.700 deste ano.
Apesar da queda, em 30 anos de funcionamento que serão completados no próximo dia 8 de setembro, o plantão gramatical registra a marca de 571.978 ligações (somadas até terça-feira, 17).
"Hoje em dia é mais fácil acessar a internet", diz Marino. O coordenador diz que não há planos de informatizar o plantão gramatical. Para ele, a equipe não teria fôlego para atender os usuários via web.
Rio de Janeiro
Um serviço parecido será implantado no Rio de Janeiro. O Telegramática prevê o atendimento através de uma linha telefônica, por uma equipe composta de oito professores, que se revezarão em dois turmos diários. As perguntas poderão ser feitas de segunda a sexta-feira.
A promulgação da lei que cria o telegramática foi publicada no Diário Oficial da Assembleia Legislativa do Rio desta terça-feira. Porém, o serviço ainda não está funcionando e o número do telegramática não foi divulgado.
Serviço:
Plantão Gramatical de Fortaleza
Telefone: (85) 3225-1979 (ligação tarifada)
Funcionamento: de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h
18/08/2010
Fonte: g1.globo.com